Por Camila Abe; Editado por Corrie Monteverde
O projeto Conexões entre Água e Produção Rural (CAP) investiga se e quais agricultores adaptam seus sistemas de produção quando experimentam mudanças nas chuvas, quais adaptações eles fazem e se essas adaptações reduzem as perdas de renda esperadas quando ocorre a seca. Uma melhor compreensão dessas respostas informará os esforços das agências governamentais e da sociedade civil para ajudar os agricultores a se ajustarem às mudanças na disponibilidade de água.
Como parte de nossa equipe focada em pesquisa hidrológica, eu fui ao Brasil no último verão para fazer meu primeiro trabalho de campo em Rondônia. Apesar de ser brasileira, eu nunca havia visitado a região norte do país e essa fui minha primeira oportunidade de realizar um completo e interessante trabalho de campo. Eu estava muito animada!
A preparação para o trabalho de campo se iniciou bem antes, quando eu, meu orientador (Dr. Trent Biggs) e nossos colaboradores em Rondônia (Dr. Elvino e Eng. Cleiton) estávamos tentando entender por que o motor do nosso simulador de chuvas havia parado de funcionar. Era um daqueles imprevistos que acontecem com equipamentos. “Talvez o clima em Rondônia seja muito quente para esse motor”, “talvez tenha alguma coisa quebrada”, “talvez ele tenha simplesmente se desgastado com o uso”. Depois de algumas reuniões, discussões e cálculos de hidráulica, nós descobrimos o problema e eu finalmente estava pronta para ir a Rondônia.
Natural do sudeste brasileiro, eu sempre tive a visão estereotipada da região norte: muito açaí fresco (servido no almoço, com acompanhamentos salgados em vez de frutas e leite condensado), muito suco de frutos exóticos Amazônicos, peixes, e claro, a vegetação e a paisagem únicas (e lindas veredas!). Mas eu também sabia um pouco sobre a histórica de colonização de Rondônia e o fato do estado ter extensivas áreas de pastagem para produção de leite e carne. Para minha surpresa, Rondônia (ou pelo menos os locais que visitei: Rolim de Moura, Ouro Preto D’Oeste e Ji-Paraná) não se encaixa naquele esteriótipo nortista. Eu fiquei maravilhada com a riqueza da diversidade cultural da região, que mistura diferentes ‘Brasis’ numa mesma cidade! Foi a primeira vez em que vi as veredas e pude atestar como são realmente belas. Também fiquei impressionada em ver quão secos o solo e a pastagem ficam no período de seca.
Iniciei o trabalho em Rolim de Moura, onde testamos as soluções para o motor com problema e assim que ele passou a funcionar, nós fomos visitar algumas fazendas para realizar nossas simulações de chuva. Simular chuva sobre a pastagem é uma forma muito interessante e útil de se medir escoamento superficial, infiltração, e fazer estimativas de interceptação. O trabalho era duro, pois passávsmos o dia todo no pasto (debaixo do sol, sem sombras, e com alguns carrapatos!) and tínhamos que cavar o solo bastante seco e duro (mas essa tarefa foi deixada aos homens, para meu alívio). Nós partíamos para o campo todos os dia de manhã cedo. Alunos de graduação e de pós-graduação estavam sempre nos ajudando e estavam muito animados com as simulações também. Dr. Elvino, que é professor na UNIR, também estava animado e aproveitou a oportunidade do trabalho de campo para desafiar seus alunos (incluindo a mim), perguntando o que deveríamos esperar em termos de infiltração ou escoamento superficial nas diferentes condições das pastagens (pastada, pasto alto etc). Para o pasto alto, todos esperávamos ver mais infiltração e menos escoamento superficial, pois aprendemos que em geral a vegetação reduz o escoamento superficial e aumenta a infiltração. No entanto, nossa simulação de chuva nos mostrou exatamente o oposto! Por alguns minutos, todos ficaram em silêncio, tentando entender o que estava acontecendo, verificando se estávamos fazendo o experimento corretamente... e então examinamos o pasto e descobrimos o motivo: a pastagem alta e seca possui uma camada de folhas secas e mortas abaixo dela. Essa camada cobre a superfície do solo e impede que a água infiltre e portanto, o escoamento superficial aumenta. Essa situação foi um ótimo exemplo de como o trabalho de campo pode nos surpreender ao não confirmar nossas expectativas, mesmo quando elas são baseadas em sólida teoria e observações em outras circunstâncias.
Passar os dias no campo também foi uma boa oportunidade para conhecer mais sobre nossos colaboradores e seus interesses. Para mim, que pretendo ser professora um dia, foi muito bom ver tanto interesse em pesquisa especialmente vindo dos alunos de graduação.
Foi apenas a primeira semana de trabalho de campo e eu parti de Rolim de Moura já me sentindo fisicamente cansada, mas muito mais feliz e animada com o nosso trabalho, dados coletados e a próxima parte do trabalho de campo, em Ji-Paraná.
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